quarta-feira, 18 de maio de 2011

Mulheres na diplomacia

Diplomacia de batom 

Uma leva inédita de 27 mulheres chega à cúpula do Itamaraty, vencendo 80 anos de preconceito

Em meados de julho, quando assumir a Embaixada brasileira em Nova Délhi, Vera Machado vai inaugurar a era dos "embaixatrizos" na diplomacia nacional. A estranha palavra é proposta como neologismo por seu marido, o engenheiro Ronald Machado, 60 anos, para designar o "esposo de embaixadora". A novidade marca a chegada das mulheres à cúpula do Itamaraty, uma instituição que resistiu o quanto pôde à ascensão feminina em seus salões. Hoje, um número inédito de mulheres chega aos cargos de elite da diplomacia: são seis embaixadoras e 21 ministras, distribuídas em sete chefias de postos no exterior e em cinco chefias superiores no Brasil. "Estas carreiras têm sido marcadas por alto grau de profissionalismo. É natural que cheguem ao topo", reconhece o secretário-geral do Itamaraty, embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa.

Não foi uma conquista fácil. As portas só se abriram graças à tenacidade de duas pioneiras, a baiana Maria José de Castro Rebello e a carioca Maria Sandra Cordeiro de Melo. "Não sei se as mulheres desempenhariam com proveito a diplomacia, vide tantos atributos de discrição e competência são exigidos", diz um despacho do então ministro Nilo Peçanha, de agosto de 1918. Apesar do tom machista, o despacho permitiu que Maria José ingressasse na carreira, tornando-se a primeira diplomata do país.

Em 1938, foi novamente vetada a presença feminina. A proibição durou 24 anos. De novo, a força de vontade de uma aspirante prevaleceu. Maria Sandra assistiu à primeira aula no Instituto Rio Branco, em 1954, munida de uma liminar. Outras 226 mulheres conseguiram chegar à escola de diplomatas desde então, sem deixar dúvidas quanto à eficiência feminina. Marcam presença no Itamaraty. Nas últimas seis semanas, quatro mulheres receberam a incumbência de representar o Brasil na Índia, no Equador, na Guatemala e em Trinidad-Tobago. Elas se equiparam a Theresa Quintella, que comanda a Embaixada brasileira em Moscou há três anos. É um feito e tanto quando se lembra que, nos anos 50, apenas três chegaram ao último nível da carreira. As promoções para postos consulares também não param de acontecer. A embaixadora Heloísa Vilhena, por exemplo, tomou posse como cônsul em Roma, na semana passada. Nenhuma dessas diplomatas alcançou posto de embaixador no disputado circuito Elizabeth Arden - Paris, Londres, Nova York e Roma -, onde brilham embaixatrizes tão poderosas quanto charmosas, como Lúcia Flecha de Lima.

As embaixadoras emprestam charme às rodadas diplomáticas. Não há assunto que não possa ser tratado por elas. Prova disso é Maria Dulce Silva Barros, 42 anos, que assumiu o posto de ministra conselheira na Embaixada brasileira em Haia. Vai se ocupar do comitê que discute a proibição de armas químicas. "A única restrição, agora, é assumir postos de embaixadora em países que discriminam oficialmente as mulheres", constata Maria Dulce, referindo-se ao mundo muçulmano. No Brasil, as diplomatas não se cobrem de véus, mas evitam vestir calças compridas no trabalho - um resquício do conservadorismo do passado. "Mudei meu guarda-roupa. Fiquei mais formal", admite a terceira secretária Mariana Madeira, 27 anos, ao abolir os jeans.

Conciliar profissão e vida pessoal ainda é um desafio. Maria Dulce parte para Haia, mas vai se afastar do marido, professor universitário, e dos dois filhos. Não é à toa que esse estilo de vida - errático - acabou multiplicando as uniões entre colegas. Existem no Itamaraty 40 casais de diplomatas. "Flexibilizar as normas sobre casamento impulsionou a carreira das mulheres", admite o secretário-geral. Até a década de 70, entretanto, quando dois diplomatas se casavam, um deles abandonava a carreira. Aconteceu com Maria Sandra, ao tornar-se mulher do embaixador José Augusto Macedo Soares. Ela aposentou-se, virou embaixatriz e, deprimida, suicidou-se em 1975, em Bogotá. Dez anos depois, caía o impedimento de marido e mulher assumirem postos no exterior.

Das seis embaixadoras atuais, duas são casadas. Entre as ministras, a contabilidade afetiva é mais favorável. Mais da metade conseguiu manter seus casamentos. Aos 59 anos, a cônsul Heloísa Vilhena encarou a nona mudança de país em 35 anos de carreira. "Casamento fica difícil. Somos independentes, mas a cada três anos podemos ser transferidas para algum lugar do mundo", pondera. "Uma amiga brinca que não somos feias, nem burras, mas não arrumamos marido." Em compensação, Heloísa morou em Londres, Moscou, Paris e Santiago. Quando vão para fora, os salários aumentam bastante. Um embaixador, que no Brasil ganha R$ 10.500, no exterior recebe em média US$ 15 mil.

Embaixadoras novatas costumam ser confundidas com embaixatrizes. "Teria sido mais fácil casar com um diplomata. Não teria esperado 32 anos para virar embaixadora", ironiza Vera. Ronald, o marido, sente-se à vontade ao desempenhar as funções de embaixatriz: prepara jantares, chás e recepções, sem reclamar. "Em seis meses, serei um marajá", anuncia, ao traçar seus planos na Índia. Entre eles, comandará um casarão com 15 serviçais. Quando a mulher serviu na Espanha, como conselheira, o maridão ocupou o tempo com atividades culturais. Foi 101 vezes ao Museu do Prado. Poderá superar a marca ao freqüentar o Taj Mahal.

      Eliane Trindade

A primeira vitória

Em 28 de agosto de 1918, Nilo Peçanha autoriza, com ressalvas, Maria José Rebello a prestar exame para a Secretaria de Estado das Relações Exteriores

"Não sei se as mulheres desempenhariam com proveito a diplomacia, vide tantos attributos de discrição e competência são exigidos, bem que não são privilégio do homem - e si a requerente está apparelhada para disputar um logar nessa Secretaria de Estado (...), o que não posso é restringir ou negar o seu direito...

Melhor seria, certamente, para o seu prestígio que continuassem a direcção do lar, taes são os desenganos da vida pública, mas não há como recusar sua aspiração, desde que fiquem provadas suas aptidões." 

Fonte: http://epoca.globo.com/edic/19990628/soci2.htm 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sobre a carreira de diplomata


Para ser diplomata e ganhar R$ 18.478 basta ter curso superior.

Por princípio, o diplomata precisa ter disposição para o diferente. Não só por causa das inúmeras viagens e mudanças de residência que fará ao longo da carreira representando o seu país, mas sim porque terá de atuar nas mais variadas áreas. Nos concursos realizados para o Itamaraty, não há determinação de formação para os candidatos. Qualquer pessoa com diploma de ensino superior pode participar da seleção.
Com isso, o corpo diplomático brasileiro reúne os mais diferentes e impensáveis profissionais, além dos óbvios bacharéis em direito e relações internacionais: engenheiros, físicos, químicos, biólogos, filósofos, designers. Os jornalistas também são numerosos entre os aprovados no concurso para diplomacia.
Na última seleção, 42 aprovados eram do direito, 23 de relações internacionais, 11 jornalistas, sete administradores, seis engenheiros, cinco historiadores, três economistas, dois psicólogos, dois filósofos, dois sociólogos, dois da área de letras, um analista de sistemas, um designer, um físico, e um formado em zootecnia. A diversidade de profissionais é valorizada pelo Itamaraty.
Todos os futuros diplomatas passam por um curso de formação de dois anos no Instituto Rio Branco (IRBr), órgão do Ministério das Relações Exteriores. “O papel do Instituto Rio Branco é fazer com que candidatos vindos de áreas diferentes passem a pensar como diplomatas e a entender que passam a fazer parte de uma instituição, de uma corporação, com seus valores e regras”, explica o secretário Márcio Rebouças, do IRBr.
Quando concluem o curso, os diplomatas iniciam as atividades profissionais nos departamentos do Itamaraty. “O Itamaraty é um microcosmo no qual todos os talentos são apreciados. O profissional que opta pela diplomacia não deixa necessariamente de trabalhar na área de formação inicial. Trata-se de uma escolha pessoal”, afirma Rebouças.
Em algum momento da vida profissional, no entanto, eles terão de lidar com temas diferentes de suas áreas. “O Itamaraty é o responsável por gerenciar as relações internacionais do Brasil nas mais diversas áreas”, destaca o secretário. Ele lembra que o diplomata negocia desde ações para promoção da cultura brasileira até um tratado internacional, passando pela assistência consular aos brasileiros que residem no exterior.

Curiosidade e vontade de aprender

As pessoas que largaram carreiras distintas da diplomacia para tentar ingressar no Itamaraty têm algo em comum: são curiosas, ecléticas e gostam de desafios. Por isso, não se arrependem de, em muitos casos, terem trocado emprego fixo e estável para estudar e encarar um dos concursos mais difíceis do País.
Quem se aventura a entrar na disputa pelas vagas oferecidas anualmente pelo Instituto Rio Branco precisa passar por uma maratona de avaliações. A seleção é dividida em quatro fases. Na primeira, os candidatos fazem uma prova objetiva que cobra conhecimentos de português; história do Brasil; história mundial; geografia; política internacional; inglês; noções de economia, direito e direito internacional público.
A segunda fase constitui-se de uma única prova de português. Na próxima etapa, o candidato tem de demonstrar conhecimentos mais aprofundados de história do Brasil, geografia, política internacional, inglês, economia e direito. Por fim, são aplicadas provas de espanhol e francês. Com tantos conhecimentos diferentes exigidos em uma mesma seleção, quem é aberto a novas ideias e gosta de estudar sai em vantagem.

Da universidade para o cerimonial

Alexandre Gonçalves teve dificuldade em aprender o português
Alexandre Gonçalves, 31 anos, largou o emprego como professor na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, para tentar uma vaga no Itamaraty. Nascido em Santa Rita do Passa Quatro, no estado de Mato Grosso do Sul, ele chegou aos EUA com nove anos. Os pais foram tentar a vida longe do Brasil. Quando estava prestes a terminar o ensino médio, a família de Alexandre decidiu voltar. Ele ficou.
Com 16 anos à época, Alexandre logo conseguiu emprego e uma bolsa de estudos na Universidade de Columbia. Tinha de escolher entre um curso de engenharia ou de artes. Optou por engenharia química. As boas notas lhe renderam convites para continuar os estudos e dar aulas. Alexandre concluiu o mestrado e o doutorado na área na mesma instituição.
A possibilidade de construir carreira como professor o fez parar para refletir. E desistir. Alexandre achou que era hora de voltar ao Brasil. A família quase enlouqueceu. Não compreendiam como alguém poderia ter coragem de jogar tudo para o alto e recomeçar. “A diplomacia é interessante por causa da possibilidade de mudanças não só geográficas. E o vínculo com o Brasil é sempre muito forte”, analisa.
A maior dificuldade de Alexandre foi estudar português. Longe do País muito tempo, sofreu para perder o sotaque estrangeiro e escreve bem na língua materna. Em um ano e meio de estudos, a aprovação no Itamaraty chegou. Agora, feliz e realizado, Alexandre atua no cerimonial. Para ele, quem passa no concurso é capaz de aprender qualquer coisa. Por isso, a formação inicial não faz diferença.

Dividido entre a física e a política

Leonardo Loureiro é físico, mas resolveu ser diplomata por gostar de política
Leonardo Loureiro Araujo, 36 anos, tinha fascinação pela ciência desde pequeno. Ao mesmo tempo, se inquieta para compreender melhor os assuntos sobre relações internacionais e políticos do País e do mundo. Eram curiosidades permanentes, que tinham lugar privilegiado entre seus interesses, junto com a física e a matemática.
O interesse pelas exatas o levou a escolher o curso de física no vestibular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde se formou. Os bons professores do ensino médio que admirava o incentivaram a estudar a área também. Logo, ele se envolveu com carreira acadêmica e a pesquisa. Fez mestrado, doutorado e começou a dar aulas na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Apesar do enorme gosto por ensinar física, o interesse de Leonardo pela política o levou a pensar em outra profissão: a diplomacia. A vontade se transformou em sonho. Dois anos antes de entrar no Itamaraty, Leonardo adoeceu gravemente. Precisou ficar “de molho” um ano para se tratar. No ano seguinte, tomou coragem, largou tudo em Salvador e se mudou para Brasília a fim de se preparar para o concurso.
Ele garante que não deixa de ler muito sobre física e matemática. “Gosto muito da maneira pela qual o raciocínio nelas é construído”, afirma. Mas ele não se arrepende. Feliz com a nova carreira, hoje ele atua na área de cooperação jurídica internacional. “É algo fascinante para mim. Tomei uma decisão bastante ponderada antes de me comprometer com a carreira”, diz.
Para ele, a variedade de formação dos profissionais só contribui para a carreira. “A diversidade é uma das riquezas do Ministério das Relações Exteriores. Cada diplomata de formação ‘inusitada’ traz para o Itamaraty a possibilidade de um novo olhar”, sentencia.

Curiosidade acima de tudo

Bruno d´Abreu faz estágio em uma divisão que lida com tecnologia e informação
Bruno d’Abreu, 31, se formou em desenho industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2002. Quando ainda estava no ensino médio, ele pensava em se tornar um diplomata. Mas não apostou suas fichas na profissão porque considerava a seleção extremamente difícil. “Achava impossível conseguir. Como sempre amei desenho e tecnologia, optei pelo curso de desenho industrial”, conta.
“É muito difícil limitar nosso interesse em uma só área. Acho que a diplomacia traduz isso bem e oferece uma gama rica de áreas para explorarmos”, opina. Bruno trabalhou quase dez anos em veículos de comunicação, como diagramador. Por duas vezes, chegou a pedir demissão e viajar pelo mundo para aprender novas coisas, estudar e trabalhar. Estava sempre atrás de algo novo.
Foi quando decidiu largar o emprego e estudar para o concurso do Rio Branco. Preparou-se longe de Brasília, no Rio de Janeiro, durante um ano. Em 2009, foi aprovado. “Tomei a decisão certa, não tenho dúvidas. Há uma riqueza muito grande de assuntos no Itamaraty. Vou ter de circular pelo mundo e em diferentes assuntos”, ressalta. Para ele, os diplomatas têm um perfil curioso.
“Preparação é tão intensa para entrarmos na carreira que somos capazes de nos preparar para trabalhar com qualquer coisa”, brinca. Hoje, Bruno . “Tenho a impressão de que, para a diplomacia, curiosidade e paixão contam mais”, diz.

Saiba mais sobre a carreira do diplomata

- As provas de seleção para o Instituto Rio Branco são realizadas sempre no primeiro semestre de cada ano. São oferecidas, em geral, 100 vagas. Às vezes, um pouquinho mais. A seleção deste ano já começou e está na terceira fase.
- Se você pensa em entrar na disputa por uma das vagas oferecidas no Itamaraty tem de saber que a concorrência será grande. Em 2008, 75 candidatos disputaram cada vaga. Em 2009, a demanda foi de 87 por vaga. Este ano, ficou em 82.
- Quando é aprovado no Rio Branco, durante os dois anos de estudo, o diplomata já recebe salário. A remuneração inicial do Itamaraty é de R$ 12.413 e o cargo é terceiro secretário. O salário mais alto, do ministro de 1ª classe (embaixador), é de R$ 18.478.
- Ao concluir a formação inicial, os diplomatas iniciam as atividades profissionais nas diferentes áreas do ministério. Há muitas possibilidades: administrativas, políticas, jurídicas. Há grupos temáticos, como a cooperação com a África, a Ásia, a América Latina. A escolha pelas áreas é feitas de acordo com a classificação do aluno no concurso, que pode  ser melhorada ao longo da formação no Rio Branco.
Via IG

Fonte: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:JuJkEbLXycEJ:www.vidauniversitaria.com.br/blog/%3Fp%3D58925+ser+diplomata&cd=7&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&client=firefox-a&source=www.google.com.br

quinta-feira, 31 de março de 2011

A Carreira Diplomática Brasileira

Autor: Leonardo Queiroz Leite

A carreira diplomática brasileira

A opção pela carreira diplomática figura como o caminho mais tradicional para o bacharel em Relações Internacionais. É impossível passar quatro anos estudando o funcionamento do sistema internacional sem em algum momento se colocar na pele de um dos atores mais importantes da vida internacional: o diplomata.

O curso de graduação em Relações Internacionais, por sua vocação multidisciplinar e generalista, é, inegavelmente, o mais indicado para aqueles que pretendem se debruçar sobre os estudos para o Concurso de Admissão à Carreira Diplomática (CACD). Ao tomar contato com temas de História, Diplomacia, Direito, Política Internacional, Economia e Teoria das Relações Internacionais ao longo do curso, o estudante de Relações Internacionais passa a construir uma sólida base conceitual e teórica, e ao mesmo tempo em que cursa a graduação já está automaticamente se preparando para o concurso. Atualmente, essa tendência tornou-se evidente visto que os egressos dos cursos de Relações Internacionais são o segundo grupo mais numeroso nas listas de aprovados para o Instituto Rio Branco, ficando somente atrás da tradicionalíssima formação em Direito

O diplomata é um servidor público federal que possui três funções essenciais: representar, negociar e informar. Esse profissional pode trabalhar tanto no Ministério das Relações Exteriores em Brasília, como em embaixadas e organismos internacionais em vários países nos quais o Brasil está diplomaticamente presente. Sinteticamente, pode-se dizer que o diplomata trabalha para elaborar posições negociadoras e propor linhas de ação que o seu país deve executar para dar concretude às diretrizes gerais de política externa formuladas pela Presidência da República e pelo Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty. Para atingir seu objetivo, o diplomata processa informações e coloca em prática seu conhecimento para elaborar posturas políticas que favoreçam o interesse nacional do país que defende.

O Brasil, com sua fortíssima tradição diplomática, conta com uma academia diplomática de enorme prestígio internacional (o Instituto Rio Branco) e com a centralização da política externa nas mãos do Itamaraty. Assim, exige dos aspirantes a diplomata uma imensa carga de estudos e uma formidável bagagem cultural acumulada, uma vez que o exame de admissão por via de concurso público é a única e exclusiva forma de entrada na carreira. É um caminho penoso, e passar por essa porta estreita exige anos de dedicação aos estudos preparatórios, além de profundos conhecimentos em línguas, sendo cobrados o Português com status eliminatório, o inglês e duas outras línguas como classificatórias.

Portanto, a aprovação na carreira diplomática é um projeto plurianual, que demanda essencialmente tempo, conhecimento acadêmico sólido, atualização constante e acompanhamento da realidade internacional, domínio completo de quatro idiomas, leitura mínima da densa bibliografia exigida e, principalmente, um arcabouço cultural bem acima da média.

Levando em consideração a dificuldade inerente à opção pela diplomacia, é crucial ponderar que a carreira diplomática implica em uma série de fatores que a diferenciam substancialmente das demais profissões. Para o senso comum, a carrière é sempre cercada por uma aura de glamour e de infindáveis prazeres sociais regados a caviar e champagne. Todavia, na realidade, o que se verifica é muito trabalho duro devido ao reduzido número de diplomatas, necessidade de adaptação a diferentes países e culturas e de um forte espírito de renúncia pessoal.

Em compensação, de acordo com o diplomata francês do século XVIII, François de Callières, “a decepção nos aguarda em todos os caminhos da vida, mas em profissão alguma os desapontamentos são tão amplamente superados por ricas oportunidades como na prática da diplomacia”. Portanto, a força de sedução da carreira diplomática e todo o fascínio que ela inspira decorrem das oportunidades douradas que o diplomata tem, no seu dia-a-dia, de conviver com pessoas interessantes, de poder conhecer o mundo e de ter contato direto com os bastidores da política internacional.

Encerro o artigo com a magistral definição da carreira diplomática proposta pelo Embaixador Mário Gibson Barbosa: "Confesso que não sei, até hoje, em que consiste uma vocação diplomática. Se por tal se entende o gosto fútil pelos prazeres mundanos, pelas festas de sociedade, então o equívoco é grave e pode ser funesto. Pois ser diplomata é, antes de tudo, aceitar a condição de estrangeiro, na maior parte existência. É conformar-se em viver num país que não é o nosso e que nunca nos aceitará totalmente, por mais que nele possamos criar um círculo, sempre provisório, de relações, num meio que devemos cuidadosamente respeitar para não ferir suscetibilidades, pois a crítica não é tolerada quando provém de um estrangeiro. É resignar-se a viver longe da família e dos amigos, a ponto de, por causa das prolongadas ausências, faltarem assuntos quando nos reencontramos. É ficar fisicamente afastado do povo a que pertencemos e que forma o nosso substrato psicológico e social. É ter equilíbrio emocional para, muitas vezes, suportar a solidão. É possuir ou adquirir a qualidade de saber adaptar-se. É ter gosto pela negociação e pela conciliação, resistindo ou cedendo conforme o caso, para chegar a um fim que nunca será inteiramente satisfatório. É ter a humildade de se converter num especialista em generalidades, em saber pouco de muito em vez de muito de pouco, ao contrário, portanto, do que caracteriza o técnico."

PS: Duas leituras podem ser muito valiosas para aqueles que se inclinam para a opção da carreira diplomática e querem conhecer mais sobre a vida do diplomata e sua atividade profissional:

1) Os bastidores da diplomacia: O Bife de Zinco e outras histórias, do diplomata e ex-embaixador brasileiro no Chile, Guilherme Luiz Leite Ribeiro. Publicado pela editora Nova Fronteira, 2007.

2) O Instituto Rio Branco e a diplomacia brasileira: um estudo de carreira e socialização, da antropóloga Cristina Patriota de Moura. Publicado pela Editora FGV, 2007.

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Autoria: Leonardo Queiroz Leite

Bacharel em Relações Internacionais pela UNESP – Franca

Membro da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra – ADESG

Acadêmico de Direito – Faculdade de Direito de Franca

23 de agosto de 2009

http://www.artigonal.com/politica-artigos/a-carreira-diplomatica-brasileira-1383668.html

Perfil do Autor

Bacharel em Relações Internacionais pela UNESP; Especialista em Política e Estratégia pela ADESG; Acadêmico de Direito pela Faculdade de Direito de Franca; Presidente do Conselho Municipal de Juventude de Franca.

BLOG: http://espiritismoeconscienciacritica.blogspot.com/

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

FELIZ 2011!!

Caros amigos, o ano de 2011 promete muitas novidades aqui no blog porque finalmente é tempo de dedicar-me a ele, antes, porém, quero desejar-lhes um SUPER 2011!! Cheio de grandes realizações, saúde e paz.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Eu recomendo...

Olá!
Nesta semana, eu recomendo o livro "Política Externa Brasileira" de Henrique Altemani de Oliveira como leitura obrigatória para quem quer fazer as provas para a carreira de diplomata. Já li esse livro e em breve começarei a postar um resumo de cada capítulo do livro no blog para ajudar aqueles que não dispõem da  obra.

                                           

Sobre o autor: Henrique Altemani de Oliveira é doutor em sociologia pela USP, com tese sobre "Política Externa Brasileira e Relações Comerciais Brasil-África". Foi professor e coordenador do curso de Mestrado em Relações Internacionais da Universidade de Brasília e professor visitante do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP. Atualmente é professor do curso de Relações Interncionais e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Relações Interncionais da PUC/SP.

Um pouco sobre o livro: O objetivo central desse livro é disponibilizar uma visão sequencial e analítica dos pressupostos políticos que fornecem a base do processo de inserção internacional brasileira, isto é, pretende-se realizar um estudo da evolução da política externa brasileira em suas faces e fases, ressaltando-se os aspectos políticos.
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